Após anunciar o maior investimento em níquel no
País, em dezembro de 2006, o grupo Anglo American passa a
intensificar seus estudos em uma nova reserva de mineral de
níquel laterítico e saprolítico. O
depósito de níquel do Jacaré está
localizado a 60 km a norte da cidade de São Félix do
Xingu, região do Carajás, estado do Pará. Caso
a operação seja viável economicamente e
aprovada pela matriz da companhia, o novo projeto exigirá
investimentos maiores do que o de Barro Alto que já chega a
US$ 1,5 bilhão.
Os estudos de “Jacaré” indicam um potencial
jazida de níquel, que poderá ser considerada classe
mundial para implantação de um projeto cuja
produção possivelmente será igual ou superior
a de Barro Alto. “Os estudos concentram-se em fase de
definição do tamanho da jazida e devem ser
concluídos em meados de 2008. Caso todas as etapas sejam
aprovadas e corram normalmente, este projeto deverá ser o
próximo em nossa carteira, logo após o início
da operação de Barro Alto, por volta de abril de
2010”, explica Walter De Simoni, presidente da Anglo American
Brasil.
Até o momento, a empresa já perfurou cerca de 42
mil metros distribuídos em 1850 furos a fim de dimensionar o
potencial de metal contido. “Também já
realizamos a topografia e levantamentos geofísicos –
ambos aéreos e terrestres – além de aberturas
de acessos para a sondagem e mapeamentos geológicos”,
explica Romero Queiroz, gerente de Geologia e
Exploração da Anglo American Brasil. Vale ressaltar
que, em 2006, o Projeto Jacaré recebeu o certificado da ISO
14001 e OSHAS 18000 e em janeiro de 2008, após recente
auditoria da SGS, as certificações foram mantidas. A
avaliação compreendeu os trabalhos de pesquisas
geológicas e as instalações do acampamento do
projeto.
Em termos de produção, a jazida de Jacaré
permitirá a lavra de três tipos de minério de
níquel. O minério saprolítico, que tem
características físicas e químicas similares
as dos minérios de Barro Alto, Codemin e Loma de
Níquel – depósitos atuais da Anglo American,
cujo minério é utilizado para a
produção de ferroníquel pelo processo
pirometalúrgico clássico RKEF – Rotary Kiln
Eletric Furnace. No caso do minério laterítico, o
mesmo se subdivide em duas categorias: Minério
laterítico silicoso e ferruginoso. Os minérios
lateríticos desse depósito têm
características físicas e químicas similares a
outros depósitos mundiais, tais como Cuba e Nova
Caledônia e poderão ser beneficiados pelo processo de
hidrometalurgia .
“As reservas minerais de Jacaré estão em
fase de avaliação e preliminarmente apresentam
potencial para suportar uma usina de pirometalurgia e outra de
hidrometalurgia”, completa Romero. Atualmente, 110 pessoas
estão envolvidas no projeto que deverá ter seu estudo
de pré-viabilidade finalizado em 2009. No entanto, a
companhia já mantém uma saudável
relação com a comunidade de São Félix
do Xingu, explicando aos líderes locais - por meio de
reuniões - como serão desenvolvidos os trabalhos no
projeto.
Entre as ações já implementadas em
benefício da comunidade estão a
recuperação de 23 km de acessos e 5 pontes de madeira
e doação de 10 novos computadores e seis impressoras
para a escola Municipal Maria Madalena.
Mercado de Níquel
Com o cenário atual no setor de metais básicos, o
Brasil tem se tornado destaque na escolha de projetos aprovados
pela Anglo American plc. Especialmente no setor de níquel,
que ainda apresenta bons preços
De acordo com Paulo Castellari, diretor Comercial e de
Desenvolvimento de Negócios da Anglo American Brasil, o
mercado de níquel ainda pode gerar dois ou três ciclos
de projetos para o setor no Brasil. De acordo com estudos
geológicos publicados pelo Mining Journal, o País tem
potencial para cerca de 17 milhões de toneladas de
níquel contido nos recursos minerais, volume
comparável aos de países como Rússia e
Austrália.
“Hoje, a participação da Anglo American no
Brasil é de 25% da produção de níquel.
Com o crescimento da produção de níquel no
País, daqui a cinco anos, nossa expectativa é
aumentar para 30% de participação de mercado, sendo
que a previsão é atingirmos a liderança
brasileira com 45% até 2018”, afirma Paulo.
Cerca de 65% a 70% da produção de níquel
é hoje empregada para a fabricação de
aço inoxidável, sendo o restante utilizado para a
confecção de baterias, catalisadores e outras ligas.
Existem diversas formulações para o aço
inoxidável (todas com alguma combinação de
Ferro, Níquel, Cromo, Molibdênio e outras ligas), que
podem ser organizadas em dois grandes grupos: os aços
inoxidáveis Austeníticos (Série 3), com cerca
de 8% de níquel contido, e os aços inoxidáveis
Ferríticos (Série 2), com aproximadamente de 1% a 3%
de níquel contido.
De acordo com Paulo Castellari, o mercado de níquel
sofreu muitas alterações nos últimos quatro
anos, sendo que, a partir de 2000, se tornou mais evidente o
aumento de investimentos na produção de commodities
incluindo o próprio níquel. Nos últimos
três anos, este mercado teve um déficit de 30 a 40 mil
toneladas e o valor do níquel subiu até atingir o
valor de US$ 50 mil/tonelada. “É o maior valor
histórico – em termos nominais e do preço do
níquel nos últimos 50 anos. Há alguns meses, o
valor da tonelada do níquel baixou para uma faixa de US$ 25
mil e, mais recentemente, chegou a cerca de US$ 30 mil. Mesmo
assim, este é um valor em que é possível
operar e desenvolver novos projetos”, explica o diretor.
O níquel, que sempre teve uma grande
participação nos custos do aço inox -
historicamente de 27% a 30% dos custos totais diretos - passou a
ter um peso ainda maior com o aumento do preço da commodity
nos mercados internacionais, o que levou muitos produtores a
buscarem formulações de aço inox com menor
teor de níquel. “Nosso grande desafio é a
intensidade do uso, ou seja, o quanto de níquel vem sendo
utilizado em aço inox, que vem caindo”, afirma
Castellari. “Existem aplicações que exigem
certas formulações, que contêm maiores teores
de níquel, e esta fatia de mercado, que pode chegar a cerca
de 50%, não pode ser facilmente substituída por
outras matérias-primas”, completa.
Mesmo com o movimento de ajuste de preços, o setor é
bastante atrativo – daí os novos investimentos neste
mercado. “Deve-se sempre avaliar as forças
‘físicas’ – oferta e demanda – e as
forças ‘financeiras’ – o mercado de
commodities ganhou atenção nos últimos anos e,
conseqüentemente, interesse por investidores ao redor do
mundo. Olhando as forças ‘físicas’, o
mercado ainda é muito promissor. Muitos peritos do segmento
ainda acreditam em um ‘super ciclo’”, afirma
Castellari.
Futuro do Mercado Mundial de Níquel
O crescimento anual médio do mercado mundial de
níquel é de 4% a 6% e deve-se entender as
formulações que serão consumidas e enxergar um
mercado com muito potencial. De acordo com a Anglo American, ainda
existe bastante espaço para crescimento de demanda, uma vez
que o consumo per capita de níquel por ano em países
desenvolvidos ainda é muito superior àquele observado
nas economias emergentes. “Na Europa, o consumo de aço
inox per capita por ano é de cerca de 13-15 kg; no Brasil,
é de 1,5 kg; na China, atinge de 4,5 kg a 5 kg e na
Índia, também é de 1,5 kg. Tudo nos leva a
crer que países como China e Índia cheguem à
marca de 10-12 kg per capita por ano, em médio prazo”,
completa Castellari.
“A Anglo American vem desenvolvendo uma carteira de ativos
de níquel há mais de dez anos. Hoje, a empresa
está bem posicionada com ativos de classe mundial (alto
volume e baixo custo de operação), que levarão
o grupo a uma posição privilegiada no mercado”,
afirma o executivo. “As tecnologias de produção
– que para o níquel podem significar grandes barreiras
de crescimento – a serem utilizadas nos projetos da Anglo
American são conhecidas e testadas. Isso coloca a empresa
numa posição estratégica forte”,
completa.
Os maiores produtores mundiais de níquel hoje e
em 2018
|
Rússia |
Austrália |
Canadá |
Brasil |
2007 – participação no mercado
mundial |
17% |
19% |
18% |
3% |
2018 – participação no mercado
mundial |
12% |
14% |
9% |
11% |